ZDB

Artes Performativas
Teatro

Um espectáculo para os meus compatriotas

— Um projecto de Rui Pina Coelho e Gonçalo Amorim.

23.10 — 28.10.12
NEGÓCIO Rua de O Século nº9 porta 5, Lisboa


PAUL SOUTHMAN

Se o teatro servisse para alguma coisa

Se importasse

se o teatro fosse importante,

eu não poderia dizer isto:

.


Um espectáculo para os meus compatriotas é um desabafo à volta de “A letter to my fellow countrymen”, de John Osborne (1961) e de outras coisas raivosas, tais como uma personagem do John Whiting, uma canção dos Pixies, umas bocas do Bob Dylan, umas cenas dos Sex Pistols e uns versos do Coriolano.

O mote central é uma carta aberta que John Osborne, dramaturgo britânico, fez publicar no jornal Tribune, em 18 Agosto de 1961, onde, do Sul de França, dirige uma invectiva desabrida aos “seus compatriotas”. É uma carta ruidosa, raivosa, um jorro feroz de comentários sobre o Estado da Nação. “This is a letter of hate. It is for you, my countrymen. I mean those men of my country who have defiled it. The men with manic fingers leading the sightless, feeble, betrayed body of my country to its death. You are its murderers, and there’s little left in my own brain but the thoughts of murder for you”, vomitava ele. Em algumas coisas, Osborne tem razão, noutras, quer só aleijar. Está, tal como afirma, cheio de ódio por aqueles que estragaram a “sua” Inglaterra. O tempo era de confusão entre um mundo de austeridade e de clivagens entre classes sociais, cada vez mais fundas, e entre uma ideia de prosperidade que a muitos soava artificial.

Este espectáculo parafraseia o ódio da carta de John Osborne sobre a Inglaterra do pós-guerra e aponta-o para o Portugal de hoje. Para um Portugal refém da incompetência dos seus dirigentes. Para um Portugal em suspenso. Para um Portugal que parece não sentir necessidade de ter jovens, artistas, cidadãos. Para um Portugal em que a felicidade parece ser um luxo proibitivo. Este é, por isso, um espectáculo de ódio.

Este espectáculo é uma espécie de recipiente confuso de sobras, de gritos e palavrões que ficaram por dizer. As figuras são recuperadas de espectáculos anteriores: Jaime, Alice, Helena e Cláudio vêm do Já passaram…, Paul Southman é o artista exilado de O dia do Santo. É um espectáculo de energia punk, sem razão, sem futuro, sem causas, atordoado.

Com este espectáculo continuamos uma interrogação sobre a crise do capitalismo e sobre a relação do indivíduo com as forças sistémicas do modelo capitalista. Fizémo-lo, no TEP, com A morte de um caixeiro viajante (2010) e Do alto da ponte (2011) de Arthur Miller, Já passaram quantos anos, perguntou ele (2011), de Rui Pina Coelho (que recuperava o Look Back in Anger do John Osborne); O dia do santo, de John Whiting (2012) e Chove em Barcelona, de Pau Miró (2012). E, essa é também a questão maior que o Gonçalo Amorim tem perseguido: em Foder e ir às compras; em A mãe; n’O Jogador. Mas, por mais respostas que vejamos ensaiadas e por mais caminhos que descubramos, ainda não sabemos o que fazer. Onde é que anda a nossa cabeça? Where is our mind?

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