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Música
Concertos

THEESatisfaction

qui23.07.1522:00
Galeria Zé dos Bois


Os mitos também assentam em pilares que tudo têm a ver com a ideia de psico-geografia: lugares com energia própria, imanes de práticas específicas. Pense-se no Bronx em meados dos anos 70 e na ligação entre a desconstrução do groove funk até ao seu tutano rítmico e um lugar que tinha mais semelhanças com a Beirute pós-bombardeamentos do que com o glamour de Manhattan; e pense-se, claro, na chuvosa Seattle e nas incontáveis bandas de garagem: o rock, afinal de contas, foi sempre remédio contra o tédio, certo? Boredoms, Tédio Boys…

O que tem isso a ver com as THEESatisfaction? O que vocês quiserem. A verdade é que a dupla de Stasia “Stas” Irons e Catherine “Cat” Harris-White, tal como os seus “vizinhos” Shabazz Palaces, parece interessada em elevar-se acima dessa geografia específica, apontar ao cosmos e inventar uma nova identidade, uma nova forma de estar, de pensar, de soar, de grafar até, mas isso há muito que é regra na comunidade artística ou activista negra, que de Sun Ra a Malcolm X e daí até Prince ou Agrika Bambaataa, sempre procurou nos novos nomes uma forma de reforçar novas identidades.

Com dois álbuns no activo – awE NaturalE de 2012 e o recente EarthEE – as THEESatisfaction posicionaram-se na dianteira de uma nova escola soul, integrando um sentir cósmico que há muito atravessa a música negra e um activismo vincado ao nível da identidade sexual para afirmarem, não a diferença, mas a igualdade. Que os discos tenham saído com carimbo editorial da histórica Sub Pop é apenas mais um pormenor do derrube dos tais mitos. Mais importante do que o selo ou a cidade que lhes serviu de habitat NaturalE, é a música vibrante, apontada ao futuro mas com consciência de linhagem, que as THEESatisfaction têm vindo a produzir. “Whatever you do”, cantam elas, ligando-se ao que antes produziram alguns elementos da Native Tongues ou os antepassados directos Digable Planets, “don’t funk with my groove”. Frase mais complexa do que à primeira vista possa parecer mas, para a descodificar, nada como apanhar a cumplicidade de Stas e Cat em cima de um palco. É aí que a relação entre dois corpos e duas mentes, entre duas vozes, entre as palavras que cada uma debita, entre tudo isso e os beats de recorte futurista, ganha verdadeiro sentido e se abre a novas leituras à medida que a mescla, que daí resulta, colide com os nossos ouvidos. Venham elas. RMA

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