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Música
Concertos

Sun Araw Band

sex04.09.1522:00
Galeria Zé dos Bois


Ilustre descendente do neo-psicadelismo surgido ao longo da primeira década deste milénio, Cameron Stallones, aka Sun Araw, é nos dias de hoje um dos poucos sobreviventes ao tempo e ao hype que inevitavelmente amoleceu uma maravilhosa comunidade. Um dos nomes notáveis na influente editora Not Not Fun, foi aí que acabaram por surgir os seus primeiros quatro álbuns, demonstrando desde logo uma proliferação criativa ímpar. Por entre colaborações relativamente familiares com as saudosas Pocahaunted ou com os incandescentes Eternal Tapestry, eis que em 2012 surge aquela que terá sido a mais importante de todas. A convite da RVNG Intl para a série FRKWYS, Stallones junta-se aos históricos The Congos para um disco de união entre a realeza jamaicana do passado e a reconfiguração experimentalista do presente. O encontro foi um sucesso, conquistando novos públicos até então distantes da obra de Sun Araw. Como se não bastasse, tem dedicado o seu tempo extra a projectos paralelos como Celebrate Music Synthesizer Group ou à sua label com M. Geddes Gengras, a Duppy Gun.

Nestes sete anos oficiais de digressões, lançamentos e participações, a natureza primitiva de Sun Araw continua perene apesar das mutações substanciais que emergiram neste caminho. A perfeição em forma de trindade pode ser encontrada na sequência de discos como Beach Head, Heavy Deeds e On Patrol, possivelmente os três resultados mais-que-poderosos de Stallones. Está lá tudo o que o tornou na figura que é hoje: o rock rastejante como que almejando o eco do dub, a electrónica lo-fi de ambiências esotéricas ou o pulsar jazz revestido de um psicadelismo letárgico. Continua agora a criar um território musical sempre cativante e portador de algum arrojo sem anular contudo a linguagem por si concebida. De facto, esta propriedade de constante renovação explica então porque se mantém em 2015 como um fidedigno espírito irrequieto e, por consequência, merecedor da nossa melhor atenção.

É verdade que a pedrada anterior de Belomancie já pouco devia às ressonâncias do legado jamaicano, porém o mais recente Gazebo Effect fortalece por completo essa tendência. Um álbum disruptivo da sua sonoridade e da sua identidade que aliás surge aqui na qualidade de Sun Araw “Trio” XI. Uma configuração da banda completada pela miríade de sintetizadores, saxofone e teclados de Alex Gray e Mitchell Brown. Provavelmente menos denso que esperado, Gazebo Effect descobre pedaços de melodias, por vezes quase aleatórias, outras oriundas de um minucioso trabalho a três. No geral respira os silêncios de uma forma inédita, escutando-os, incorporando-os e reconfigurando-os. Modus operandis deveras refrescante e imensamente inspirador para as próximas indagações deste combo.

Ainda que se trate de um regresso à sala que desde sempre o albergou, pelo que acima foi exposto, existem motivos para crer que este é um novo estágio na vida de Sun Araw. Como tal, nada que tivesse sido presenciado por cá. Um sério boss da nossa época, rodeado de uma intrigante selva urbana como só ele é capaz de arquitectar. NA

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