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Música
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Holly Herndon ⟡ Ondness

sáb30.03.1322:00
Galeria Zé dos Bois


Holly Herndon
Ondness

Holly Herndon

Aparentemente antagónicos, a composição clássica e o techno partilham uma orgânica próxima que abre diversas possibilidades à coabitação. Neste sentido, editoras como a Touch ou a Rune Grammofon têm facultado um sem número de propostas, todas elas portadoras de um valor próprio. No caso de Holly Herndon, foi na igualmente recomendável RNVG Intl. (Julia Holter, Sun Araw ou Sensational Fix) que lançou o ano passado ‘Movement’, uma obra poderosa que aborda a linguagem electroacústica e a experimentação vocal de um modo unificador.
Herndon cresceu rodeada do ensinamento clássico em redor de instrumentos como o piano ou a guitarra, até que uma ida para Berlim mudou definitivamente a forma como começou a observar, a sentir e a criar música. O computador, até então alheio à sua criação sonora, tornou-se o epicentro do seu trabalho. Todo um mundo de absoluto enlace entre ruído, batida e output emocional presentes no processo.
Partilhando o palco com uma vasta e luxuosa tropa onde se incluem Chris & Cosey, Nguzunguzu, Andy Stott ou Ignatz, a jovem norte-americana chega à ZDB numa altura de enorme entusiasmo e curiosidade sobre os seus passos futuros. NA

Ondness

Sobre o pinhal de Leiria, lembro-me que algumas estradas pareciam intermináveis até ao momento em que se uniam numa encruzilhada. É aí que um caminho faz com que o outro respire, e todo aquele enorme matagal encontre alguma organização. Nesse grande pinhal que é também o universo musical do Bruno Silva, Ondness funciona como um ponto de convergência para as qualidades que até aqui estavam dispersas.
Propositadamente dispersas, talvez, como se fossem ensaios necessários de ciências que só mais tarde viriam a ser aplicadas a fundo numa fórmula amadurecida a que o Bruno decidiu chamar Ondness. E, se existe, nas malhas de Ondness, uma sensação de “coro de todos os fantasmas e mistérios”, é porque o Bruno andou a cultivá-los durante bastante tempo: foram muitas as cassetes obscuras e exóticas, vários os concertos míticos em Leiria e outras tantas as marcas deixadas em festivais e colectivos diversos. Todos esses capítulos de um percurso incansável que permanece muito mais focado numa visão caleidoscópica pessoal do que na revisão de qualquer género ou na vontade de fazer sumo com a fruta da época.
O próprio som de Ondness sugere em vez de impor: abraça-nos com o enleio rítmico geralmente atmosférico e incapaz de sobrepor a sua voz à que temos na cabeça. Fica a sobrar o espaço necessário para todo o tipo de usufruição e obtenção de ideias acerca da techno de Gas (Wolfgang Voigt), ou sobre como funciona, por exemplo, o som nos filmes de John Carpenter ou das produções da Carolco e da Cannon. Se em Ondness há também alguns sinais da música baleárica, esses aparecem como se fossem a recordação de uma foda bem dada há alguns meses atrás e nem tanto na sua forma eminente.
Ao que tudo indica, o homem terá descoberto o fogo de cócoras. Foi numa posição semelhante que o Bruno Silva chegou ao seu “fogo” também. Depois de uma noite mal dormida em Coimbra, senti curiosidade de espreitar pela porta do quarto do Bruno e lá estavam espalhados pelo chão os pedais, as cassetes e demais matéria roufenha. Todo um arsenal de fricção, investigação e persistência que, na sua versão actualizada à imagem de Ondness, vai estar aos olhos de todos no aquário da Zé dos Bois. Miguel Arsénio

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