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Música
Concertos

Eiko Ishibashi

qui16.05.1922:00
Galeria Zé dos Bois


Um talento ainda em descoberta para muitos ouvidos ocidentais, a japonesa Eiko Ishibashi alcançou nos últimos anos uma aura de culto. Curiosa pela origem das coisas, o domínio técnico que dispõem sobre diversos instrumentos, de onde se destacam o piano e a percussão. Extremamente prolífica, tem no mago Jim O’Rourke um aliado na produção, após colaborações estelares com Merzbow, Charlemagne Palestine, Keiji Haino ou Oren Ambarchi. A diversidade das suas personas reflecte-se numa discografia irreverente mas também graciosa, de onde se destaca o mais recente ‘The Dream My Bones Dream’, jóia editada o ano passado pela Drag City.

Naquele que é um dos seus trabalhos mais marcantes até à data, Eiko parte da ideia de uma viagem pessoal ao seus antepassados, após a morte do seu pai. O processo genealógico resultou igualmente num desafio criativo, de inclusão de elementos reais e imaginários numa narrativa concebida ao detalhe – respirando todavia aquela busca constante da improvisação. Abstracto, fantasmagórico até, ‘The Dream My Bones Dream’ é uma peça feérica, de sensibilidade jazzística no que respeita à confluência de elementos, mas essencialmente pop, reinada por melodias e arranjos que revelam mestria. A importância do espaço, e o seu surgimento lânguido das secções de cordas ou sopros, conferem uma sensibilidade quase capaz de suspender o tempo – ou, de outra perspectiva, de criar o seu próprio tempo. Toda a luxúria instrumental, garantida desde o primeiro segundo, se enleva na voz de Eiko (um elemento relativamente recente na sua música). Encontramos nesta banda sonora autobiográfica momentos de contemplação a relembrar Sakamoto, resoluções mais sépia ao estilo de uns Blonde Redhead ou viagens siderais lado a lado com os Stereolab ou Tortoise. Sejamos francos: não é todos os dias com que nos cruzamos com uma obra tão elegante; tão cheia de tons e formas simplesmente improváveis, e por isso mesmo, reveladoras.

A sua vinda a Lisboa chega pois num timing ideal, incluindo a apresentação oficial do disco supra citado na companhia de Joe Talia. Escutá-lo, independentemente do contexto, deixa-nos sempre a questionar de como estas canções, complexas e intensas, são interpretadas num palco, onde os recursos são sempre mais escassos que num estúdio e perante uma audiência que a observa pela primeira vez. A resposta está agora aí, numa ocasião dificilmente replicada nos anos que se seguirão. NA

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