ZDB

Música

Colleen

qui07.12.1722:00
Galeria Zé dos Bois


©Vera Marmelo

A recolha de polar​o​ides exóticas e indeterminadas na electrónica prossegue um feliz percurso, de diversas formas e origens. Celebração extra quando se denota que muitos desses casos surgem no feminino, causando importantes rachas a uma esfera ainda dominada pelo sexo oposto. Kaitlyn Aurelia Smith ou Kara-Lis Coverdale ofereceram já o paraíso na terra por via de uma depuração pop, afinal, essencial. Esculpir canções que de outro modo não existiriam e extrair delas um alucinante estado de bálsamo parece um mágico ofício que as une. Depois há Laurel Halo, Jenny Hval ou Grouper – apenas para enunciar algumas – que se alinham neste geneologia não-oficial (mas real) da ‘pop panorâmica’ dos nossos tempos. Felizmente não faltarão ilustrações a este quadro, mas faltará aqui um nome cuja omissão seria para lá de injusta: Colleen. Ao longo de seis obras magistrais, onde tudo começou com “Everyone Alive Wants Answers”, a francesa Cécile Schott tem dedicada uma exploração apaixonante sobre a música – e a vida; porque, a dada altura, uma e outra se enlaçam.

Cada novo álbum corresponde necessariamente a uma nova fase, pessoal e criativa – e nunca igual à anterior. A tendência dessa liberdade tem sido particularmente notória após a temporada na sua editora inicial, a Leaf. Com ‘The Weight Of the Heart’ surgiram mudanças de rumo, linguagens e possibilidades ímpares então no que fez. A inclusão da voz foi desde logo um elemento inédito a que se juntaram novos instrumentos (como a viola de gamba) e um léxico em constante evolução. O seguinte ‘Captain Of None’ acrescentou uma noção dimensional na sua música como nunca antes a sentimos.

Este ano, outro milagre acontece. ‘A Flame my Love, a Frequency’ volta a surpreender e a arrepiar, condensando alguma da mais bela musica deste 2017 – isto dito sem qualquer pingo de exagero. Distinto de tudo o que até então nos apresentou, nestes novos oitos postais, brota uma leveza que flui entre os silêncios e delinea o pulsar melódico. É um disco que ‘acontece’, que nos inunda os sentidos e o subconsciente. Nascido dos escombros do terror dos atentados em Paris, em Novembro de 2015, esta obra aporta contudo numa, já sua habitual, harmonia holística que rege a sua visão. De resto, as composições aqui presentes reflectem esse sentido. Cada detalhe completa o seguinte ou o anterior, numa narrativa sonora contínua que transpira prazer e emoção. É difícil, injusto até, tentar escolher um álbum favorito de Colleen; são todos, e cada um com um conjunto de motivos tão pertinente quanto único. Todavia ‘A Flame my Love, a Frequency’ poderá, desde já, fazer carreira com um fiel grupo de seguidores para a vida.

Membro indiscutível da família ZDB, que disco após disco, tem o privilégio de a ter por cá, o regresso de Colleen é um retorno ao calor de casa. NA​

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