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Bill Orcutt ⟡ The Orm

dom25.10.1522:00
Galeria Zé dos Bois


Bill Orcutt
The Orm

Bill Orcutt

Até à sua extinção nos final dos anos 90, os Harry Pussy foram dos mais incansáveis prevaricadores do cânone rock, alimentando-o a anfetaminas free para o libertar do cadáver que tantas vezes o arrasta para uma existência inane. Desses tempos de selvajaria impetuosa, a que se seguiram doze longos anos de silêncio quase absoluto, Bill Orcutt seguiu a drive, o nervo e uma certa ideia de primitivismo que reapareceria numa nova forma igualmente essencial no maravilhoso A New Way to Pay Old Debts de 2009. Traduzida na latitude acústica de agora, essa pureza de intenções alinha os fantasmas de Orcutt com o American Primitivism da Takoma de John Fahey e retrocesso contínuo, com a sabedoria ancestral e infinita cunhada nos blues de Robert Johnson, Son House ou Mississippi Fred McDowell.

Desde então, Orcutt tem vindo a trilhar esse caminho só seu com uma fé inabalável, conduzido pelo instinto e imune a quaisquer conjecturas, com registo perene em álbuns como How The Thing Sings ou A History Of Every One – com edição algo surpreendente na Mego – e em inúmeros 7” limitadíssimos através da sua Palilalia Records. Música de expressividade absoluta e quase táctil, que sem entrar num jogo referencial é consciente das histórias que a precedem e as evocam num campo lexical idiossincrático capaz de expelir num mesmo fôlego as baforadas circulares do Albert Ayler, os espasmos de Glenn Gould, a mímica guitarra/voz do Joseph Spence e todo o riquíssimo legado acima enunciado.

Esbatendo as noções de harmonia, timbre e ataque num mesmo plano, Orcutt ataca as quatro cordas da sua velhinha Kay com toda a ferocidade do shredder mais impiedoso, sem fazer disso um meio para divagações nervosas à guitarra, mas sim como expressão física da sua visão. Acordes lânguidos em confronto benigno com frases epilépticas, pontuados por uma voz dolente em réplica instantânea de tudo isso. Um mundo em si mesmo, que nunca procura esconder o seu criador. Enfatiza-o naquilo que tem de mais real, num acerto de animismo e fisicalidade apenas possível aos maiores. BS

The Orm

Com actividade pública regular ao longo dos últimos meses e um álbum prestes a sair em vinil – após um CDR em edição de autor -, este duo formado pelos guitarristas Filipe Felizardo e Tiago Silva aparece no calço electrificado do drone como um devir de crescente aprumo e libertação. Entre o titubear teimoso da guitarra de Silva e os acordes no limite do feedback de Felizardo, ergue-se um totem de construção labiríntica. Assombrados pelos blues e demais histórias do rock que se lhes seguiram, mastigam as tropes do género para as expelir num turbilhão de domínio zen, na senda das amplificações noise libertárias dos grandes japoneses – com Keiji Haino à cabeça -, do lado mais expansivo que se esconde nos projectos paralelos dos Bardo Pond ou do desalinho sempre essencial da família Dead C. BS

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